segunda-feira, 18 de maio de 2015

TUDO É ESCURIDÃO

TUDO É ESCURIDÃO.

Tudo é escuridão quando se tranca dentro do peito
A angústia pelo silêncio
[Enquanto por fora tudo sorri ao descaso de nunca ter sido]
Tudo continua escuridão quando se olha ao sol
E se vê apenas chuviscos de uma luz fosca
[Que desintegra do peito o ardor de viver]
E tudo será escuridão
Enquanto o grito continuar abafado pelo medo da repulsa
... pelo medo do erro...
Tudo um dia é escuridão
[Mas cabe a eu gritar e rasgar a falta que, diminutiva, cobre minha alma]
Cabe a eu  dizer um basta e virar poesia.
Poesia para o mundo, mas principalmente para mim.
Não ser o fim,
Não chegar ao fim.
Não querer ao fim...
Cabe a mim enquanto permeio na escuridão, ser vela e florescer no centro
Dessa luta uma bela cantiga que assustará os medos, descobrirá as janelas
E levantará o que antes no chão estava.

Cabe a mim. Ser o escuro. Porém não me perder neste.
Igor Passos

sábado, 9 de maio de 2015

Eu me transformo

E em cada momento da vida me transformo em pó e volto ao nascimento. Ouso em deixar para trás todas as peripécias que um dia me fizeram prender os pés nos acordes da vida, ali morri ao mesmo tempo que nasci (ou não seria a vida exatamente isso? Esse complexo de ser e não ser, de ter e não ter, de enfim, nascer e morrer). E mesmo com tanta angústia e até mesmo certa solidão, caminho para frente: acredite, isso nem sempre é lógico. As tais peripécias deixam marcas que gritam e queimam no peito, muitas vezes chamando de volta ao leito tão inóspito nesse presente que um dia foi futuro.
Busco me recriar. Ser reciclagem para o mundo e para mim, ser a borboleta que nunca acaba de se metamorfosear por completo, exijo o novo. Aliás, sou o conjunto de todas essas peças que me dão, que apresentam-me, e já dizia meu pai: carro com peça velha sempre empaca e é isso que evito: empacar na vida..
Ah seu moço, parece fácil esse caminho, mas não é. O importante é seguir sempre com um coração limpo e puro, sempre com o céu azul na memória e uma página em branco pronta para escrever-se a própria história. Não importa quanto tempo leve: os sonhos são plumas que transformam as almas e estes devem ser sonhados e vividos.
Hoje já não sou quem eu era antes de começar a vos falar, já sou outro e isso me encanta. A capacidade de inovar e perceber que o outro cabe dentro de mim. A mão, meu amigo, que seja estendida ao aperto e não às pedras. O abraço sempre permitido e o coração sempre amplo. Mesmo que daqui cinco segundos eu já tenha outro nome e outra história, saiba que a alegria sempre existirá.

O mundo muda, eu mudo e agradeço por mudar, mas a alegria em viver e poder me transformar perante aos meus próprios desejos me faz mais humano e mais capacitado para mais uma vez, quem sabe, me transformar.
Igor Passos

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Dona morte e seu diálogo com o Bem e o Mau.

Dona morte, certa vez fora invocada para uma conversa entre o bem e o mal. Tal reunião tinha o intuito de esclarecer o seguinte fato: quem realmente morria?
Com todas sua desconfiança, saiu vestida com seu véu para tal encontro, caminhou lentamente com sua foice até chegar ao local indicado. Lá encontravam-se duas formas de sombras: uma de luz e uma de escuridão.
- Ora dona morte, como sempre muito pontual... – Balbuciou a forma negra, com certo ar de sarcasmo.
Ignorando tal sentença, dona morte sentou-se no centro que dividia as sombras.
- O que há de tão importante que é necessário minha presença? - Indagou dona Morte.
- Queremos uma resposta. Há séculos existe uma batalha entre o bem e o mal, quem na realidade mata e quem realmente morre. – Disse calmamente a sombra branca.
- Mas o que querem dizer com isso, oras? Todos morrem, um dia todos tem de me encontrar! – Proferiu dona Morte em meio a tragos inacabáveis de seu cigarro.
- Não dona Morte, não é isso. Não pode ser! Alguém tem que ser culpado de tudo isso. O lado negro exige uma explicação. Ou tem o bem que mata ou tem o mal que o faz. Ou morre, ou mata.
Em meio a tantos questionamentos a impossível Dona morta, parou um pouco, como se buscasse dentro de si uma explicação palpável para ela própria. Era como se o tempo tivesse parado e pela primeira vez em toda sua existência ela se encontrasse em crise.
Ela era o meio termo. Era a morte e era a causa. Era a lágrima e era o riso. Era o bem, ao mesmo tempo que era o mal.
Dona morte estava em êxtase. Estava muda. Estava... difícil de se aceitar... Morta.
- Então dona separadora e determinadora dos tempos, o que tem a nos dizer? – Implorou a sombra de luz.
Não sabia bem o que dizer e as palavras que se seguiram foram como uma bomba. Tanto para ela, quanto para as sombras.
- A culpa é individual. – sussurrou dona Morte. – Eu sou apenas uma ponte de ligação entre o mundo real e o mundo dos mortos. Eu estou morta e viva ao mesmo tempo. Morta pois preciso fazer a ligação entre os mundos, todos os dias e todos os momentos, aliviando e trazendo a dor, já viva, pois caso só morta estivesse essa passagem não seria possível. E a morte não sou eu, a morte é individual.
Após aquelas palavras dona Morte se sentiu vazia e viu que sempre fora. Não tinha alma, nem coração. Não tinha a certeza e nem a dúvida. Ela existia naquele momento e ao mesmo tempo já não a via mais. Percebeu que ela era o segredo de sua própria existência.
- Como assim? Quer dizer que a morte é de quem tem o câncer já espalhado, que foi atropelado, a culpa é daquele que nem de seu próprio destino sabe? – Gritou a escuridão.
- Exatamente. Cada um galga sua própria vida. Assim como sou estado permanente, vocês também são. Porém mutáveis. Bem e mal são constantes de cada um, isso não o diz a morte, o estar morto. Cada um faz suas escolhas e não sou eu, muito menos vocês que vão decidir quem vai. A morte, a real morte, é inconstante, ela é um segredo que todos querem revelar, mas que nunca vão.
Naquele momento todos estavam juntos mentalmente, como um uníssono som. Perceberam naquele instante que era exatamente isso: o segredo da vida estava na morte. Todos lutavam e batalhavam para desviar deste encontro, mas o ser supremo, não dona Morte, era traiçoeiro, como um campo minado.
A morte não designa bem nem o mal. Dona Morte não escolhe a quem vai encontrar e é perceptível que os que são escolhidos tiveram a audácia de em sua vida escolher uma fruta sortida com o cupom do fim.
É certo que todos vão, dona Morte foi, o bem vai todos os dias e o mal também. E todos renascem e essa é a única certeza. Sozinhos caminham estes três, em busca do grande porém: o fim. Mas nunca o descobrem, e quando o fazem.... Infelizmente não podem voltar para contar.
Neste exato momento estavam sentado lado a lado, dona Morte, a Luz e a Escuridão e nesse conjunto perceberam que são interligados, um meio, um início e um fim que se fundem na vida diariamente. E que nessa mesma vida, tão individual e vazia, não sabiam até quando continuariam.
Com toda a dor da incerteza dona Morte levantou-se, após ver que não era nada ao mesmo tempo que era tudo. Levantou-se para buscar mais um afortunado desse cheque mate.
Em resumo, dona Morte percebeu que não é válido tentar decifrar sua mãe. A grande Morte é silenciosa e sorrateira. Vale lembrar, mais uma vez, que não se sabe quando nem onde ela está, com isso o que vale é saber ter a luz e a escuridão. Saber o dom tão rápido (como um piscar de olhos) que é viver.
O legado que cada um tem é lembrado, não sua morte. Pois no momento em que se morre, a única coisa que é relembrada como um memorial é Dona morte e não o infortunado que ela bateu a porta para levar.
Igor Passos


sábado, 21 de março de 2015

Não pensávamos que chegaria, mas chegou e bem mais rápido que o planejado.

Não pensávamos que chegaria, mas chegou e bem mais rápido que o planejado.
Muitas das tantas vezes esquecemos que a vida é só uma linha inconstante, uma corda bamba que passa escorrendo por nossas mãos, muitas vezes esquecemos que os momentos são únicos e passageiros e que o para sempre tem data de término. A correria humana nos faz esquecer de que daqui seis meses nada será certo, de que seremos jovens sozinhos procurando emprego, esquecemos de que as memórias, talvez, não possam mais se concretizar.
O problema é que sou dos mais sentimentais e já sinto a perda da inconsequência, a perda de toda adrenalina que possuímos nesses três anos, mas prezo pela constante amizade, prezo pelo amor que cultivei e prezo pelos frutos de todas essas preocupações. Mesmo que daqui a seis meses tudo seja incerto eu quero continuar contado com os mesmos rostos, para chorar e rir, para divertir-me, para viver.
Ainda não acabou, mas já penso muito nesse fim, esse fim de lembranças perdidas, de momentos vividos e dos tantos que poderíamos ter aproveitado. Esse fim está me causando uma explosão: estou aprendendo o tal Carpe Diem, estou aprendendo o sentido de único e sei que tudo isso que já se passou foi único e que o agora deve, a cima de tudo, ser vivido, pois também é único.
Mesmo que doa, eu sei que é necessário e é uma porta que se abre ao fim desse ano. Mas meus caros amigos, estou com medo, é um medo que consome meu peito e dilacera minha alma, é um medo do desconhecido, é um medo da queda livre. Mas mesmo com esse medo eu quero dizer que: confio em vocês e mesmo se nada der certo para nós, um dia dará.
A vida começa a se mostrar a partir de agora, a pressão, o medo e a inconstância. Não pensávamos que chegaria e me lembro dos devaneios a respeito desse ano, me lembro da ânsia pelo fim, o problema é que o fim chegou e bem mais rápido que o planejado. Não estamos preparados, não estamos seguros e nem queremos essas portas abertas, quero as asas de mãe, mas sinto a necessidade de voar, de pular dessa montanha e desaguar nesse rio, que tal se chama vida. E para finalizar essas lamentações que tanto gritam em meu peito, digo: não sei ao certo quem seremos nós daqui um ano, mas em minha mente, em meu coração e em minha alma, vocês serão sempre o porto seguro que tanto me ajudaram, serão sempre aquela mão que me levavam à casa, serão minha família escolhida a dedo, serão pai e mãe quando estes se forem, são meus irmãos mandados por uma força maior. Mesmo que daqui um ano não nos conheçamos mais e todos nossos caminhos sejam embaralhados e todas as coisas começarem a ser diferentes, eu estarei aqui, pensando em tudo que vivemos e em tudo que um dia (eu sei que sim) iremos viver.
Este ano é o mais difícil, é como ter que soltar a mão da mamãe no primeiro dia de aula da alfabetização. São incertezas, são medos, são desejos. E acima de tudo, é uma grande aprendizagem que eu quero carregar pelo mundo a fora.
E mesmo que doa, mesmo que sangre eu quero correr, nas tuas mãos eu quero lavar meus olhos e quero que ao fim lembremos de que tudo valeu a pena. De que tudo foi a base para um voo ainda maior.
(Meu caros amigos, vistamos nossa coragem e corremos em busca de todo tempo perdido, busquemos em nosso interior a essência que precisamos para cumprir essa jornada e nunca deixemos perdido o sentido disso que nós chamamos de amizade.

Em meu peito eu cultivo o jardim de alegrias e amores que vocês me proporcionam).

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Espalhe que o amor não é banal.

Quando mais novo, olhava pela janela e desenhava em minha mente todas as formas que gostaria de ver nas nuvens, olhava as pessoas e imaginava seres desconhecidos que a noite dançavam, beijavam e se amavam. Fui crescendo e vi que as coisas não eram tão simples assim. A dança existe, mas em outro sentido, o beijo existe, porém antecede o escarro (já dizia nosso grande amigo Augusto dos Anjos). Porém, hoje, voltei a olhar a janela e percebi que o amor, que o afeto é muito maior que eu por tempos pensei.
O amor se concretiza na bondade, nos bons atos. O amor é muito mais que flores ou chocolates. O amor está presente no ouvir, no cuidar, no querer bem. Esse sentimento, ou melhor, estado de espírito pertence a todos, é só questão de ser. Amar é sair e ver beleza naquele poste de luz que ilumina uma ruela vazia, amar é sentir o abraço que o vento manda, é dar bom dia a um desconhecido. O ato de amar se concretiza naquela conversa na fila de banco com aquele moço que você nunca viu e nunca mais verá.
Amar, meus caros, é saber olhar aos olhos e ver a alma e não os defeitos, é saber aceitar que o modo errôneo de alguns camufla um grande triunfo de qualidades. Amar é não cobrar nada, é simplesmente ser feliz consigo mesmo e mostrar isso ao mundo. Não há distinções enquanto se ama. Não há medo, e caso esse apareça, converta-o em um sorriso.
Dentro do amor cabe-se tudo, mas é preciso paciência e isso é amor também. O amor se configura nas virtudes.
Quando se fala de amor não se fala de moral (diga-se moral filosófica, aquele tal conjunto de regras que rege o social), mas sim de ética. É a reflexão sobre os atos, é a reflexão sobre  o bem comum. O amor é a felicidade que cresce no peito ao ver o próximo bem.
O amor, por fim, é a mais bela das virtudes. Quem ama nada teme, nada perde. Tudo ganha. Amar é ver no próximo que o mundo é um todo e não uma parcela. Amar é a capacidade de aceitar o outro sem olhar aos defeitos, é a capacidade de ver beleza até mesmo em uma sacola que voa sem sentido.

Amar é o mais profundo estado de espírito, em que o ser humano pode compartilhar o céu em apenas um abraço.
Igor Passos

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Sobre a noite

Eu gosto do jeito como a noite vem. Leve, mansa e totalmente desconhecida. Parece que fomos feitos para vivermos juntos, eu e a noite, numa valsa infinita onde há espaço para mais alguém, só que caso esse outro alguém falte, a lua ocupa seu lugar.
O vento que bate em meu rosto em todas as noites que caminho sem estrada certa, me sinto vivo, esse vento gélido que bate às costelas, que quebra o medo e abre um sorriso, esse vento que tanto espanta muitos, me atrai. E eu corro. Corro para acompanha-lo e ainda ouso dizer: “ó seu vento, me espera, deixe que consigo voar também”. Esse vento me lembra como é viver, como é correr pelos sonhos....
Então, caro leitor, a noite é por si só completa, a lua é a melhor companheira. Junto ela temos as estrelas que me guiam nos passos incertos, esta bola que exala luz clareia o fim da reta, e mesmo quanto todos se vão, quando todos não podem mais ficar, lá está ela. A lua, suas filhas e o velho amigo, todos dançando contigo, escutando as lamúrias que o dia traz.
E aí está mais uma ótima qualidade deste estado diário, seus ouvidos são de veludo e sua boca conselheira. A noite, a bela noite, escuta os defeitos dos afortunados, dos amantes, ela guarda os mais doces e profundos segredos dos que ousam despir em sentimentos. A noite, meu caro leitor, é o deleite que todo amante gostaria de ter.
É na noite, inclusive, que os amantes se libertam, que os poetas nascem novamente, é na noite que os medos são exorcizados. A noite, em toda sua beleza e complexibilidade, traz a vasta paz. Quem na noite se encanta, encontra o descanso mais esperado, encontra a cama que aconchega e o ar fresco do suspiro.
É na noite que me encontro, que funciono.

No dia, ah, no dia eu preparo o ensaio que na noite se tornará um espetáculo.
Igor Passos

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Tudo aquilo que eu quero ser

Todos os dias, ao acordar, olho para dentro de mim e penso: "o que será que eu quero ser?". Posso querer muitas coisas, posso ser astronauta, posso ser bombeiro, posso até ser teu amor... Mas não e isso que quero.
Chego então a conclusão de que eu quero ser a paz que muitas vezes me falta, quero ser a voz que grita, ser o salto de vida.
Quero ser o ator que vive sem ensaio, que vive no improviso, no riso leve.
Quero ser a flor que brota no momento em que não há mais esperança, quero ser o colo que acolhe e a mão que afaga. Quero ser o coração que bate forte, o homem que grita por direitos, que ama e preza pela felicidade.
Na realidade, eu quero ser a vida e a morte juntas num único e infinito momento.
Quero ser o meu grande infinito.
Igor Passos