sábado, 25 de outubro de 2014

Conto I: Só pra ser teu homem

Naquela Manhã Joaquim perambulava pelas tesourinhas, sua mente voava em um infinito com frequência diferente àquela que ele mesmo se entregava.
Chovia naquela manhã.
As coisas fluíam numa intensidade muito menor do que há tempos atrás. No rádio tocava Clarisse e assim como a música, seus sonhos se configuravam tristes e inertes. Fez o carro parar por conta de um sinal vermelho. Ainda não conseguia aceitar esse trânsito tempestuoso que encontrara em Brasília. 

"Como uma ampulheta imóvel não se meche, não se move, não trabalha..."

Não tinha um local para ir. "Quis dividir mas não soube dosar, peso de mais pra um só carregar". E nem um local para pensar, mas precisava o fazer. Percebera que o mundo configurava-se estranho; era apenas um e fazia de tudo para mostrar a si mesmo o melhor, mas um melhor repleto de ódio e competição... Engraçado, competitividade e ódio com ele próprio.
+.+.+.+
"Somos como flores, porém nos comportamos como armas. Falta tanto amor e compaixão enquanto há de sobra, como Alex diz, a ultra violência. Que as flores desabrochem e formem um jardim de cheiros." Pensava Joaquim enquanto tragava seu Malboro sentado em um chão gélido qualquer. Enquanto tragava os últimos centímetros do cigarro, uma imagem veio a sua mente:
" Somos como esse cigarro: nascemos numa caixa, a sociedade vai tirando parte por parte nossa, tragando-nos, usando-nos e jogando-nos ao ar. Por isso que algumas pessoas estão mortas e mesmo assim continuam caminhando. Espíritos mortos em castas mais vazias ainda."

"Quando eu percebi estávamos só nos dois de novo nesse apartamento. Organizar o tempo que se foi e o que vai ficar..."

Não percebera ele, mas Antônio sentara-se ao seu lado. Histórias cruzadas de dois seres que se configuram em um só.
"O mundo é repleto de armas, mas algumas pessoas ainda permitem-se ser flores. E ele é a rosa que faltava em meu jardim..."
E mesmo que Joaquim em outra frequência encontrava-se, sabia que, no fundo, a beleza da alma ainda se encontrava em uma pequena comunidade.
Mesmo sendo só uma sociedade, o belo real ainda tentava se mostrar, para ela própria. Joaquim sabia disso e enxergava toda essa afirmativa nos olhos de seu universo: Antônio. Tal este que as armas existiam, porém as flores transpiravam de seus olhos.

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