segunda-feira, 14 de julho de 2014

Sobre esse sentimento bastardo que queima o peito.


Acho que nunca irei me esquecer daquele por do sol. O modo como o céu dançava em cores, o modo como o vento batia em minhas madeixas e as fazia dançar. Aquele rosa, misturado com um roxo envolto de nuvens... Aquele momento em que meu peito dilacerou feito um corpo que cai do décimo nono andar. E eu creio ter sido nesse momento que percebi: um sentimento bastardo me invadira e, olhe só como otário ele é, quis ficar, tentou fazer morada!
Tentou instalar-se e queria atenção, tirava-me o sono naquela madrugada fria e lá estava eu mais uma vez, só com esse sentimento bastardo que ousa queimar meu peito. Minha mente vibrava, os flashes eram muitos, mútuos e me impediam de levantar. Tremia-me. Os cheiros daquele domingo memorável voltavam as minhas narinas, invadindo meu espírito e me levando para longe, tão longe que nem sei onde agora estou.
E nesse meio de paranoia me encontrei com aquela afirmação do Paulo Coelho em Brida: cada um tem sua alma gêmea, cada um, em algum momento há de encontrá-la, pois somos a soma de pequenas partículas de espíritos, tais estas que nunca preenchidas estão. E isso me veio como visão, uma médium que tentava mostrar os caminhos. Porém lá estava o problema: por tantos serem os pedaços, a minha outra parte não se completava com minha mínima alma. 
Os olhos lacrimejaram e tentaram ser positivos. O passado não fora lá tão positivo para conosco, querido, mas eu mudei. Mudei por completo. Mudei tanto que este bastardo sentimento já não é o mesmo, hoje ele faz diferença, hoje ele queima. Como brasa, como aquelas fogueiras que tanto fazíamos para dançar no escuro da neblina, como aquela chama que queimava o cigarro, como aquele incêndio que tantos levaram.
O problema maior, ainda encontrado naquela madrugada que parecia não ter fim era exatamente o mundo: ele era grande e eu nunca fora a única! Fora apenas uma válvula e aceitara totalmente esse sentimento, aceitara o fato de ser o concelho que faltava e que em algum momento fora jogado fora. Porém hoje, por esse sentimento bastardo que ousa queimar o peito isso faz diferença. 
Meu querido, na realidade, toda diferença. Hoje eu quero as jóias e os beijos, os carinhos e todas aquelas palavras frias e vazias que os casais professam. Eu quero o toque e o prazer, quero o ódio do amante, a flor da lágrima. Eu quero o amor que tanto fugiu de ti. Egoismo meu, aliás só desejo aquilo que nunca poderei ter.
E nessa madrugada desejei mais do que nunca, parecia-me abstinência, falta da heroína, falta da cocaína. Você é minha droga, essa tão delicada e mais viciosa criada pelo homem. A mais bela obra de arte criada. A mais perfeita. Aquela que nem nas noites mais frias poderei tocar.

- Luíza em manifesto sobre esse sentimento bastardo que ousa queimar-lhe o peito.

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