terça-feira, 23 de abril de 2013

Talvez por um novo dia.

"Eu acordo e retiro de cima de mim esses lençóis impuros que me lembram o gás que os carros despejam nas ruas todos os dias, ainda ouso em me levantar, pego minha xícara de café, acendo meu cigarro, vou a janela, caralho tenho que mudar esse cigarro, fico a observar essas vidas tão monótonas desses seres que passam por minha rua. Todos engomados, com uma roupa certa, uma expressão de dor, medo, preocupação, todos apressados. As crianças correm pra escola, mas por quê mesmo? Eu saio. Ando nas ruas com minha feição de sempre, sento numa esquina, o que realmente faço nessa vida? Existe à todos uma razão disso tudo? Acho que ainda não a encontrei. Continuo meu percurso, chego em locais que não lembro, não conheço, não vejo. Mas eu procuro sentido nisso tudo, sim eu procuro! Uns se alistam, outros seguem carreira de médico, outros são artistas, mas e a mim? O que eu sou? Sinceramente eu não sei, quem sabe eu não sou nada. Quem sabe uma prostituta do século passado que esqueceu de morrer, quem sabe. Quem sabe sou aquela rosa que jogaram na rua, assim como posso ser o toquinho de cigarro que amassaram com o solado sujo. Posso ser o rei da cocada, assim como o tio da pamonha, posso ser teu médico. Posso até ser corrupto ladrão, sim, vulgo político. Posso ser tantas coisas, mas mesmo assim, o que eu sou em fim? Será que um dia descobrirei? Acho melhor voltar para casa e ficar a observar aqueles seres monótonos que talvez tenham uma certeza na vida, talvez a mesma que eu tenho: a morte. Enfim, é melhor voltar, mais um dia se foi, e com isso, mais um dia me deito nesses lençóis impuros que me lembram o gás que os carros despejam nas ruas todos os dias..."

Igor Passos

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