quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Morte, moralismo e alienação, já má alimentação (conceitual)

Amanheceu para todos, amanheceu para a mãe, o pai e o avô. Menos pra ela, estava caída no chão, parecia em um sono profundo. Mas não era sono, era morte, era o fim do começo que a adentrara, era o fim nesta terra pútrida, neste cerco de porcos imundos onde só o mal propagam. E ela partira, decidira sair deste drama blindado em que vivia, neste inferno pessoal e público que se encontrava. E o pior era o que vinha depois para os outros. Ela morrera, ok, foi-se para o infinito e então todos começaram no falso moralismo escarrado que tinham. ‘Oh, tão boa garota, não merecia’, ‘minha filha, porque?’, ‘era tão boa aluna’.. Isso morta, sem vida, sem causas para lutar. Mas enquanto viva se permanecia a ignorância a seguia, as frases clichês e moralistas não eram tão assim, pareciam mais capitalistas descarados compulsivos embalados em um amontoado de depressão pós segunda guerra: ‘Nossa, você já viu a filha da fulaninha do fim da rua? Deve ter feito pacto com o demônio, e as roupas? Nossa, todas falsificadas.’, ‘filha, pare de se vestir assim, filha pare de escutar estes pútridos sons, seja como as outras, vamos, te levo no shopping agora e fazemos um banho de loja.’, ‘sua filha é a pior aluna, entregou-me um texto completamente ignorante falando sobre como andamos capitalistas e como o mundo seria bem melhor com o socialismo dos século 19. Ela está louca, só pode, aqui está o número do mais caro psiquiatra da cidade.’ Todos seguiam os padrões chulos da sociedade, se achando fora do sistema, achando que a garota sofria do mal da adolescência, mas eles estavam mergulhados de mais, todos alucinados com as compras e com as marcas e em como a nova TV era divina, e esqueciam-se de que lá jazia uma alma, que precisava de amor e carinho e que não se importava com nada disso, não percebiam que ela era a ÚNICA não alienada. Mesmo passando noites e noites fora de casa, bebendo e fumando, ela era a mais antenada no que importava, e tentava de inúmeras maneiras mostrar isso. O problema é que não a deram atenção, jogaram-na às tralhas e decapitaram suas esperanças de um mundo melhor, e por isso naquela noite a explosão aconteceu, morte, sangue. Sucumbia a alma, toda martelada, mas partira. Deixara um bilhete: ‘Hoje morre uma garota por não ser entendida, mas isso é melhor do que ser morto pelo sistema e nem perceber.’, ninguém entendeu, todos estavam tão alienados, tão cheios de falsos moralismos e relatividades do sistema, que não perceberam que o que importa é a alma e não a marca. E o que mais a comove hoje, mesmo depois de morta, enterrada e dilacerada é que todos continuam os mesmos. Choraram por um dia, outros uma semana, mas hoje sorriem como felizardos do bolão da virada, e quando algo parecido ocorre, como um assassinato em série, todos se ajoelham e se fingem de cristãos. Todos continuam nessa neura de seguir a vida olhando para o material e só lembrar que existe um coração tentando pulsar sentimento, quando umas centenas morrem. Isso matou uma, e continua matando vários. E mesmo assim continuam no mesmo buraco obscuro que caíram com o puro retrato do capitalismo e lei da procura. Infelizmente este é o mundo em que vivemos, quanto mais material, melhor, quanto menos sentimento, melhor ainda. Finja o falso moralismo quando almas caem ao inferno, um dia será você, e suas contas serão pagas!

Igor Passos

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